quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

PROJETO QUER QUE PARAPLÉGICO DÊ PONTAPÉ INICIAL DA COPA 2014

Do Fantástico
imagem: fantastico.globo.com
O governo americano investe por ano 430 milhões de dólares na Duke, uma das principais universidades de medicina do mundo.  Um grupo internacional, de 50 especialistas, na linha de frente da ciência. Mas o que a pesquisa feita nos Estados Unidos tem a ver com brasileiros que não podem mais andar? É que o chefe desses cientistas da universidade Duke é do Brasil: o paulistano Miguel Nicolelis.

Formado em medicina pela Universidade de São Paulo em 1984, ele vive no exterior há mais de 20 anos. Completa 51 de idade na semana que vem. E trabalha numa área que mais parece ficção científica: fazer máquinas funcionarem com a força do pensamento. Um braço robótico, uma perna robótica, um braço virtual que realiza um determinado comportamento sob o comando da atividade do cérebro.

As aplicações práticas são muitas, porém ainda distantes. Mas Nicolelis tem pelo menos um projeto mais urgente, ambicioso e polêmico: fazer um brasileiro, paraplégico, ou tetraplégico, de preferência uma criança, dar o pontapé inicial da Copa do Mundo, em São Paulo, no dia 12 de junho de 2014. Daqui a dois anos e três meses.



"Acho que vai dar sim, acho que nós temos uma boa chance de conseguir realizar essa demonstração. Felicidade, tristeza, memórias, lembranças, os planos futuros. Existem tantos neurônios no cérebro como existem galáxias no universo", explica o cientista", afirma.


imagem: kwy.spaceblog.com.br
O projeto tem nome em inglês: "Walk Again": andar de novo. O cérebro produz os sonhos, e também é ele quem pode devolver os movimentos pra quem não consegue andar. Quando nos movemos é porque, frações de segundo antes, o cérebro deu a ordem. O cérebro é formado por células chamadas neurônios.


São cerca centenas de bilhões de neurônios, que se comunicam o tempo todo uns com os outros, por sinais de eletricidade.

No laboratório do professor Nicolelis, um equipamento especial consegue captar o som dessa tempestade elétrica dentro da cabeça. No caso, de um macaco. Só que, nas pessoas paralisadas, a sinfonia de comandos não chega ao restante do corpo. A ideia, o pulo do gato do cientista brasileiro, é criar um atalho. Captar os comandos diretamente no cérebro, e transmitir para uma espécie de roupa de robô. O nome dessa veste é exoesqueleto - um esqueleto do lado de fora do corpo.

"O cérebro do paciente vai comandar os movimentos do exoesqueleto do paciente, da mesma maneira que comandava os movimentos do corpo antigamente. Não é que esse chip você vai na loja de computador e compra. Foi tudo construído por alunos, pesquisadores", explica Nicolelis ".

Para buscar os sinais elétricos lá no cérebro, a equipe de Nicolelis usa dezenas de sensores. São os chamados eletrodos, que entram só um pouco no cérebro - de três a cinco milímetros. Esses fiozinhos finos como um fio de cabelo são o que a gente chama de eletrodos. A próxima etapa é reunir tudo o que foi captado mandar para um chip, parecido com o de um telefone celular, implantado no crânio.

imagem: doisporum.com
A energia vem de baterias, instaladas sob a pele e também numa espécie de mochila. Depois entram em ação mais chips, também embutidos, com um papel crucial: transformar os sinais do cérebro em ordens para o chamado exoesqueleto. Agora, os comandos são transmitidos, sem fio, pra antenas presas à cintura do paciente.


"Só que, diferentemente do corpo biológico, o que vai se mexer vai ser o exoesqueleto. É o resultado de 25 anos de trabalho, nós sonhamos com isso, o nosso laboratório inteiro aqui, desde que a gente começou a trabalhar, conclui".

Tudo perfeito - só que nunca se construiu um exoesqueleto completo. Mas já existe um avanço muito importante, que anima os pesquisadores. Pra chegar a esse ponto, a equipe se especializou em ler os pensamentos de ratos e macacos. Essa é a linha mestra da pesquisa: entender o que acontece dentro do cérebro quando o animal se mexe. E, a partir daí, usar esses sinais para movimentar uma máquina só com a força do pensamento.

E um detalhe: as macacas são sempre fêmeas. "Como sempre, as mulheres são melhores. Mais atentas, mais confiáveis". Isso é vital evidentemente porque o exoesqueleto que nós estamos desenhando, tem dois braços, duas mãos, e eles precisam ser coordenados", analisa.

imagem: surgiu.com.br
Mas o cientista avisa: o projeto não estará pronto na abertura da copa. A demonstração é apenas a primeira etapa de estudos que continuarão por anos. A pesquisa ainda não chegou aos testes com seres humanos. Nicolelis ainda busca um hospital no Brasil para essa parceria.

"Nós precisamos ter uma decisão definitiva, clara, de que o governo brasileiro está disposto a ser parceiro e que vai nos ajudar a criar a infraestrutura necessária pra que isso ocorra".

Um detalhe importante: parte da pesquisa está sendo feita no Brasil, no Instituto de Neurociências que Nicolelis dirige em Natal desde 2005. Diante dessa confiança que parece inabalável, uma pergunta final para um dos únicos, senão o único, brasileiro com alguma chance de ganhar um Prêmio Nobel de Medicina. Se um gênio da lâmpada desse a ele uma única escolha: ou fazer um brasileiro com deficiência andar na abertura da Copa ou ganhar o prêmio Nobel, o que ele escolheria?

"Essa escolha é muito fácil, porque se realmente nós conseguirmos fazer alguém andar, não tem prêmio algum que se compare com isso. O primeiro chute da Copa do Mundo no Brasil vai ser um gol da ciência brasileira e um presente do Brasil para todo o mundo”.

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